Preservação de cogumelos corre riscos - Bemposta - Mogadouro

 

BEMPOSTA

 

Preservação de cogumelos corre riscos

       ANTÓNIO PAULINO

A OFENSIVA espanhola em zonas fronteiriças de Trás-os-Montes e Alentejo na procura de cogumelos está a preocupar as organizações ecologistas e estudiosos daquele fungo selvagem. Um congresso sobre o assunto, que decorre neste fim-de-semana decorre em Mogadouro, pretende, sobretudo, «forçar a intervenção do Ministério da Agricultura a regulamentar a preservação dos cogumelos em Portugal», como afirma Domingos Amaro, director do Parque Natural do Douro Internacional e um dos principais dinamizadores deste encontro.

Os países do Sul da Europa, à excepção de Portugal, já adoptaram medidas restritivas em relação à apanha de cogumelos, por se encontrarem em vias de extinção. Por isso, os espanhóis, face à inexistência de regras nesta matéria, encontraram em Portugal uma «mina», tal como sucede, por exemplo, com as amoras silvestres.

Em causa está a apanha dos cogumelos apenas com alguns dias de vida, impedindo que soltem as sementes que, na Primavera, voltam a frutificar.

«O Governo terá que regulamentar a actividade de forma a assegurar a sua reprodução», diz Helena Freitas, presidente da Liga para a Protecção da Natureza. Apanhar cogumelos para cestos de vime, permitindo que os esporos se escapassem para a terra, seria uma das medidas.

Mas esta organização disse já ter enviado ao Instituto de Conservação da Natureza algumas sugestões, como a criação de redes comerciais controladas pelas regiões da Agricultura que passariam a vigiar as espécies apanhadas, tamanhos e quantidades. Com este circuito montado, seria possível fiscalizar e punir a compra ou transporte de cogumelos sem autorização legal e combater o comércio clandestino.

Código de conduta

As empresas espanholas fizeram uma prospecção em Trás-os-Montes e Alentejo e começaram, há três meses, a fazer uma intensa campanha de sensibilização. Marta Pires, de 76 anos, de Santulhão (Vimioso) contou ao EXPRESSO que a ordem foi para, novos e velhos, começarem a apanhar cogumelos, pequenos ou grandes, que seriam pagos, em média, a 500 escudos por quilo. Uma fonte de rendimento não negligenciável. Mas no caso da «trufa negra», um cogumelo raro e muito apreciado em França, o preço a pagar por quilo atinge os cinco contos. Este negócio, que se processa sem qualquer tipo de controlo, representará uns 2,5 milhões de contos para as famílias das regiões raianas.

Na gastronomia de França e Itália, mais de uma centena de pratos exige a presença, como acompanhamento, do «champignon». Em Portugal, esta «moda» alimentar tende a aumentar. Talvez por isso a criação de viveiros esteja a crescer. Os cogumelos de estufa, no entanto, não têm o mesmo sabor dos seus congéneres selvagens, o que explica a preferência dos apreciadores pelas espécies que proliferam pelos montados.

No congresso que hoje se inicia, um dos temas versará, precisamente, o código de conduta do apanhador de cogumelos. As espécies a proteger (listas vermelhas), utilização de fungos simbiontes na protecção contra a doença da tinta do castanheiro, o valor alimentar, preparação e conservação dos cogumelos comestíveis são os outros temas do encontro.

A questão dos cogumelos é absolutamente nova para o Ministério da Agricultura. Um assessor do ministro Capoulas Santos confessou ter sido apanhado de surpresa pelo EXPRESSO, mas garante que os serviços ficarão sensíveis às preocupações e atentos à preservação dos cogumelos.


 

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