Com esta Página, quero homenagear um grupo de amigos,
que têm há muitos anos, feito da pesca, um local de encontro em cada ano,
descansando dos seus afazeres fora da Terra (Bemposta).
Começamos há muitos anos. Primeiro, de cana rudimentar, pescando escalos à
minhoca, a seguir as carpas, com trigo . Com estas, aprendemos que as canas
também sabem nadar!
Distraídos, só despertávamos quando a cana pousada no chão, mergulhava na água.
Algumas para sempre, outras nem por isso, devido ao pescador salvador, que
mergulhava até ela. O verão, começou então a ser lugar comum, para os amigos se
encontrarem depois de um ano a labutar, uns no estrangeiro, outros pelo país,
outros aqui mesmo.
Por estradas abandonadas, que recortam as matas de
estevas e zimbros, e que já viveram dias de grande transito, quando da
construção da barragem hidroeléctrica, seguíamos nós para o nosso lugar
preferido, Os Oleiros (Castro). Aí ficam bons pesqueiros elugares de muita fé, que lembro como exemplo, a fraga
do Celestino (nome de um dos nossos elementos).
Abandonada a estrada, a corta mato continuávamos,
pelas arribas sobranceiras ao Douro, picados pelos zimbros e untados com o óleo
das estevas e de "rabo" no chão quando as botas não encontravam lugar para se
fixar. Mas, nada nos fazia parar. No fim da jornada outra se preparava. Já
sentados, no café da Maria (no largo de Santo Cristo), de cerveja na mão,
amendoins e tremoços a acompanhar, era feita a recuperação da subida, enquanto
se fazia o relato das peripécias da pesca do dia e se marcava a saída para a
próxima.
Eis que o Celestino e o Jorge, de barcos se muniram e
passamos a flutuar no Douro. As ladeiras agora já não são dureza, mas sim
beleza, com as suas matas de zimbros, únicas no país. A companhia da natureza e
dos amigos, é um tónico para todos nós. Habituamo-nos a ter por companhia, aves
raras e encontros com animais no seu habitat. No meu horizonte vejo os patos a
levantar do rio, fugindo aos barcos, o voo dos abutres, e a pesca das águias
marinhas. Nas margens deleitamo-nos com o cantar dos pássaros. Lembro-me ainda
das cobras nadando com peixe pequeno na boca, dirigindo-se com o mesmo fora de
água para a margem. No silêncio do monte, alguns sons provocados pelos
sardões, sardaniscas e cobras, circulando entre as ervas secas ou rãs e
cágados, mergulhando no rio, chegam a provocar-nos arrepios.
que fazemos algures no rio, bem regados com a vinhaça da
terra, e a fogaça de trigo. Não posso esquecer a ida à Gabriela (Sendim) ou ao
Manuel António (Bemposta)
No entanto, a grande companhia somos nós mesmos na
conversa, na anedota, nas técnica de pesca, na disputa do melhor lugar, no
insulto à cana, à bóia ou ao peixe.
E porque o peixe não é necessariamente o nosso alimento,
aliás quase todo é devolvido ao mesmo lugar onde foi pescado, a tradição é
outra. Lembro, os assados na brasa, de vitela ou cabrito,
comer a Posta ou o bacalhau com batatas a murro.
Quanto à pesca, é farta e dá gozo aqui pescar. A carpa, foi
muitos anos a pesca preferida na albufeira. Ultimamente apareceu o achigã e
passou a ser, até porque os barcos assim o proporcionam, a pesca preferida. Têm
havido lutas interessantes, com o peixe, algumas vencemos nós, outras sai ele em
vantagem, ou por defeito do pescador ou do material. Lembro aqui o record do
Chico, com uma carpa de 9.800 Kg.
Quero lembrar também ,a pesca que fazemos muitas vezes a
jusante, onde podemos encontrar a boga e o barbo. É com agrado que penso na
valentia da barbo, que leva a melhor, muitas vezes, nesta luta de pescador e
peixe.
O Agosto termina, os barcos são içados. Nós, mais leves,
pois perdemos alguns Kg e despejamos o cansaço do trabalho do ano, regressamos
como encantados, e com força para dizer, Bemposta regresso já.
A fauna piscícola do rio Douro tem mais um predador. Trata-se
do peixe-gato, uma espécie oriunda do EUA, já detectada em Zamora, ao longo do
Douro Internacional. Segundo alguns investigadores, o peixe-gato (um dos
pesos-pesados das águas doces) já deverá estar nas bacias das barragens de
Picote, Bemposta e de Miranda do Douro.
Rui Cortes, professor do Departamento de Florestas da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, garantiu, ao JN, "que os primeiros
exemplares foram detectados, há dois anos, nas águas do Douro Internacional", e
que "nesta altura, já deverão existir no curso nacional".
A presença do peixe-gato no Douro representa, segundo biólogos e
ambientalistas, uma ameaça à sua fauna piscícola. Rui Cortes garante que "o
peixe-gato é um terrível predador, pois alimenta-se de outras espécies", pelo
que "poderá estar em causa o equilíbrio das várias espécies existentes no rio".
Este autêntico exterminador é um peixe ósseo, silurídeo na água doce,
caracterizado pelos muitos barbilhões (bigodes) ao redor da boca e pela presença
de glândulas de veneno ligadas aos espinhos peitorais.