Margarida
Cordeiro, natural de Bemposta, deu a conhecer um pouco mais da realidade de
Trás-os-Montes, através dos filmes (Trás-os-Montes e Ana),
divulgando costumes, tradições e paisagens naturais.
Casada com o cineasta António Reis, utilizou como
intervenientes nos seus filmes, naturais da aldeia, tais como: António -
pescador (Escalo) e D. Ana, sua mãe.
( Médica e Cineasta )
Ver:
Vida e obra de António Reis
Filme
- Trás-os-Montes
de
António Reis
e
Margarida Cordeiro
Realização
António Reis,
Margarida Martins Cordeiro
Som, Montagem
António Reis,
Margarida Martins Cordeiro
Director de Produção
Pedro Paulo
Director de Fotografia
Acácio de
Almeida
Laboratório de Imagem
Tobis
Portuguesa
Laboratório de Som
Valentim de
Carvalho
Produção
Centro
Português de Cinema, subsidiado pelo Instituto Português de Cinema
Interpretação
Habitantes de
Bragança (Bemposta) e Miranda do Douro Processo 16 mm - cor - 110 min.
Ano de produção -
1976.
Evocação de
uma província portuguesa, o Nordeste, onde as raízes históricas seculares se
confundem com as do país irmão que o Douro une.
As crianças, as mães, as mulheres, os velhos, a casa, a terra...
A vida de cada dia, o imaginário, as tarefas prestes a desaparecer, a
agricultura de subsistência...
A erosão, tempo e a distância.
A presença dos ausentes, de todos nós que partiram em direcção a outros
horizontes.
Um poema inspirado por Trás-os-Montes, interpretado pelos seus
habitantes.
UMA SÍNTESE
AMBICIOSA
Em relação a
«Trás-os-Montes», e do ponto de vista de realizador, parece-me de sublinhar até
que ponto um público comum estará preparado para receber este filme numa
exibição normal, visto que ele conduz, quase necessariamente, a um debate sobre
o que é cultura popular e um cinema não narrativa.
Outro
aspecto, importante, deve-se à qualidade humana e ao amor com que António Reis e
Margarida Martins Cordeiro se dedicaram ao levantamento de uma região, sendo,
talvez, das primeiras vezes na história do cinema português que um filme
estabelece urna síntese dialéctica ambiciosa quanto ao que os sociólogos chamam
de escultura popular»... a quantidade de interrogações que o filme põe ao
espectador mais avisado.
Por sua vez,
isto dá a «Trás-os-Montes», de António Reis e Margarida Martins Cordeiro, uma
posição muito forte e muito original na tentativa de encontrar - coisa que se
está a passar um pouco por todo o mundo - um cinema aberto, portanto um cinema
que questiona as próprias formas de linguagem cinematográfica, e mesmo as noções
de cinema de ficção, cinema de comunicação, por exemplo, para as fundir num todo
global.
Penso que um
trabalho dotado de tais características terá, sempre, dificuldades com o
público; por isso, filmes como «Trás-os-Montes» não há muitos por toda a parte e
os poucos que existem são, normalmente, escamoteados dos circuitos normais de
exibição.
Que
«Trás-os-Montes» tenha conseguido passar em Lisboa, mesmo numa sala de estúdio,
e mesmo ás sete da tarde é, apesar de tudo, uma vitória que, no entanto, só terá
sentido se o público fizer um esforço para acompanhar a obra, que é daquelas que
tendem, como todas a grandes do cinema, a criar um novo tipo de espectador.
Fernando
Lopes
UM
FRESCO EVOCATÓRIO
«Trás-os-Montes» é essencialmente documental, embora corresponda a uma visão
muito peculiar dos seus autores. Pode dizer-se que insere vários níveis duma
memória algo desencantada, que penetra no quotidiano, e reconstituição
fantástica de certos pormenores da história e tradição.
Trata-se,
melhor, duma fresco ao mesmo tempo crítico e evocatório, que apela para a
sensibilidade do espectador, ao mesmo tempo que lhe suscita um assumir de
consciência. Salienta-se, principalmente, o grande vigor da imagem, o que ela
transmite e sugestiona: as próprias «ausências» têm um indesmentível cariz
significante.
Assim,
Trás-os-Montes como país despovoado - a desoladora realidade do esvair
emigratório, ou como território localizado nos confins - logo, longe da atenção
dos governos «centrais»... Mas o filme colhe igualmente e transmite-nos toda a
ressonância cultural genuína e de alta dignidade, bem como a força generosa e o
carácter indomável dos seus naturais.
José de
Matos-Cruz
Filme - ANA
de António Reis
e Margarida Cordeiro
Argumento, Realização, Montagem
António Reis e Margarida Cordeiro
Textos
Rainer M.
Rilke, A. Reis e M. Cordeiro
Fotografia
Acácio de
Almeida e Elso Roque
Som
Carlos Pinto,
Joaquim Pinto e Pedro Caldas
Produção
António Reis
e Margarida Cordeiro
Interpretação
Ana Maria
Martins Guerra, Octávio Lixa Filgueiras, Manuel Ramalho Eanes, Aurora
Afonso e Mariana Margarido
Processo
16/35 min -
cor - 120 min
Naqueles dias...
A lenda do leite na casa sombria. Tempo interior.
Quase silêncio.
Luz. A natureza como imemorial casa exterior. Inverno.
O sangue recolhido nas duas mãos, mãe Ana.
As emoções da infância que nascem de novo, sob outras formas, com
outros rostos, outras.
O trabalho intenso para que as transmutações surjam e permaneçam na
obra inteira e já independente de nós.
António Reis e Margarida Cordeiro
|