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Instituto da Água - Barragem de Bemposta
Bacia do Douro - redes de medição
Aproveitamento hidroeléctrico do Douro
Características Principais da Barragem
Boletim de armazenamento de água
Sistema electroprodutor da EDP
A barragem de Bemposta faz parte do aproveitamento hidroeléctrico
chamado Sistema Douro Internacional. Entrou em funcionamento em Dezembro de
1964.
A central é subterrânea, localizada no maciço rochoso, tem 85 metros de
comprimento, 22 metros de largura e 45 metros de altura. Está equipada com 3
grupos geradores. A sua albufeira abrange os concelhos de Mogadouro e Miranda
do Douro.
As suas variações de nível são pouco significativas, potenciando o rio e
as zonas ribeirinhas para o desenvolvimento de actividades turísticas e de
lazer.
As
Consequências para a Aldeia
Tudo começa com as expropriações de propriedades que se estendem do rio Douro
até, praticamente, à aldeia. Os melhores terrenos de cultivo passaram para a
posse do Estado. A revolta foi grande, a indemnização, sem aprovação dos donos,
foi a um preço irrisório. Foram praticados a 1 escudo (5 cêntimos), por cada
cepa, 100 escudos (50 cêntimos), por cada oliveira e cada hectare de terreno 200
escudos (1 euro).
A contestação ao preço era reprimida pela presença imediata da
Guarda Republicana, na residência da pessoa, fazendo interrogatórios
intimidatórios.
De repente, cerca de 5000 pessoas, como que invadem a aldeia
aproveitando tudo que servisse de habitação. Nada escapa, desde as casas até aos
palheiros e outros casas improvisadas, nas ladeiras do rio Douro. Os primeiros
eram na maioria empregados de um subempreiteiro que sediou a sua empresa aqui.
Os segundos, procurando casa e não a conseguindo, na aldeia, aproveitaram tudo
que servisse para esse fim, junto das obras, levantando paredes em pedra,
cobertos por vegetação e sacos de cimento.
Para os trabalhos de sondagem, no início da construção, foram
contratados quase em exclusivo homens da aldeia, eram trabalhos indiferenciados
e predominantemente manuais. Consistiram em abrir galerias. Após as explosões,
para abrir caminho na rocha, à força de braços, era retirado o escombro
resultante.
O que parecia ser um benefício para o desenvolvimento da aldeia
depressa resultou em acumulação de tensões.
A população deixou de contar com a sua única riqueza, os terrenos
donde extraía os produtos agrícolas, base do seu sustento. Por outro lado, os
barragistas começaram a roubar a pouca produção agrícola que restou para sua
alimentação.
A somar a tudo isto, o choque de costumes e culturas ainda agudizou
mais as relações entre população e os barragistas. Eram mal aceites algumas
atitudes de arrogância, com que tentavam desprestigiar socialmente os
habitantes, assim como as tentativas de seduzir raparigas. Muitos foram
castigados pela sua persistência, pela irreverência da sua juventude, e atirados
ao chafariz, onde bebiam os animais. Todo este nervosismo culminou com um
diferendo grave, que se descreve à frente.
A população, no entanto, fazia a separação entre os que viviam fora
da aldeia e dentro dela. Aliás, estes criaram fortes relações havendo, ainda,
hoje visitas esporádicas de ex-residentes às famílias amigas e muitos padrinhos
de baptismo.
No começo da construção da barragem, propriamente dita, a empresa
responsável pelas obras, a Hidroeléctrica do Douro, iniciou a construção de
infra-estruturas para receber o pessoal técnico e operário para os trabalhos
mais específicos da construção. Dá-se início a um novo centro urbano a que é
dado o nome de Cardal do Douro.
Para todos esses trabalhos foi indispensável a utilização de
granito. Embora existente por toda a aldeia, foi escolhida, no entanto, a zona
de Pereiras, que separa a aldeia da ribeira, e onde hoje está instalada a Rovim,
para essa extracção. Foram construídas estradas entre esta zona e a da barragem,
por onde circularam potentes “euclides”, que carregavam, incansavelmente, esta
matéria-prima.
Esta zona fica muito perto da aldeia. A utilização de explosivos
para arrancar a rocha causava ondas detonantes que faziam vibrar a aldeia,
assente que está sobre rocha, abrindo brechas que, ainda hoje, se podem
verificar, em algumas casas.
Mais uma vez saíram prejudicadas as populações, pois nunca ninguém
se responsabilizou pelo arranjo dos estragos.
Para os operários foram construídas, na zona do Barco e Palão,
camaratas pré-fabricadas em madeira, pintadas de vermelho e janelas brancas.
Para os engenheiros, encarregados e capatazes, foram construídas no
mesmo material, casas na zona de Guímara, mas separadas por categorias, pintadas
na cor verde e janelas brancas.
Todas estas construções foram assentes numa base horizontal, de
granito, necessária pela grande inclinação dos terrenos nessa zona.
Para apoio a este novo aglomerado de gente, são construídas estação
de tratamento de águas, distribuição de energia eléctrica, escola, capela,
cinema, pousada e oficinas.
Mais no final foram construídas casas definitivas, em betão armado,
para acolher os técnicos que ficaram a dar assistência à barragem, após a
construção. Estas casas foram consideradas uma obra exemplar, pela sua
integração na paisagem e arquitectura inovadora, para a altura. O arquitecto
responsável foi Rogério Araújo de Oliveira Ramos, natural do Porto.
Contudo, pela sua importância como agente influenciador da vida das
gentes, que habitam Bemposta, não se deve deixar de concluir que houve aspectos
positivos e negativos, tal como a população diz:
Efeitos positivos:
1 -
Deixaram de estar no obscurantismo em que estiveram mergulhadas até então e
começaram a ser visitadas e faladas.
2 -
Criaram alguma riqueza para a região, pois a EDP paga anualmente uma quantia às
Câmaras, como imposto. No entanto, esta posição não é pacífica, pois acham que
essas verbas deviam ser canalizadas só para as aldeias a quem foram expropriados
os seus terrenos, pois foram-lhe retiradas as melhores terras de cultivo que
ficavam junto ao rio, como por exemplo: árvores de fruta e hortaliças (os
mimos, como lhe chamam). "Agora só podemos fazer culturas de
sequeiro e pequenas hortas, pois a água é escassa nas aldeias" .
3 -
Criaram muitos postos de trabalho numa zona em que é difícil encontrar outro
emprego que não seja a agricultura, pois a indústria e serviços são praticamente
inexistentes.
4 –
Ficaram, através delas, ligados com a Espanha, com fronteiras em Miranda do
Douro e Bemposta. Esta situação fez incrementar o comércio e abriu novos
horizontes.
Efeitos negativos:
1 -
"Foram-nos expropriadas as melhores terras de cultivo, por um preço irrisório,
que fomos obrigados a aceitar, pois nem se podia falar em recorrer ao tribunal,
porque a GNR logo nos aparecia por casa a fazer perguntas e a amedrontar-nos".
2 -
"O clima mudou muito. É mais húmido. Às nossas barragens temos que juntar a de
Almendra, em Espanha (parece um mar). A nossa principal cultura, a vinha,
ressentiu-se com isso. O tratamento contra as pragas da vinha é, desde essa
altura, mais difícil o que nos fez aumentar as despesas e diminuir a produção".
3 -
"As nevadas que caem já não são como as de antigamente. Dantes tínhamos que
abrir, muitas vezes, com a sachola, um buraco para sair de casa, tal era a
quantidade de neve que cobria a aldeia. Agora, raramente neva".
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