Rio Douro e Barragem hidroeléctrica em Bemposta - Mogadouro

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BEMPOSTA

 

                                                  RIO DOURO E BARRAGEM 

O Rio Douro foi, e é, uma fonte de riqueza para a região e para a aldeia. Antigamente, fazia mover as azenhas, permitia a pesca, irrigava campos ou enchia os poços das melhores hortas de Bemposta, existentes perto deles, onde se cultivavam as novidades e as árvores de fruta, base de sustento das populações. Mais tarde, com o aproveitamento hidroeléctrico, Bemposta passa a contribuir para a riqueza nacional, distribuindo energia eléctrica ao país.

 

- Rio Douro   - Barragem  - Plano de ordenamento da albufeira

 

 

 

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RIO DOURO

 

Bibliografia: 

Aspectos geomorfológicos da bacia do Douro

 

Links :

Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Douro

Recursos hídricos nacionais

Itinerários geoturísticos nas albufeiras do Douro Internacional

 

 

            Há registos da utilização deste rio e do conhecimento profundo do seu curso, em documentos do tempo da ocupação Romana, pelo que, a sua importância já vem de longe e perdura.

Nasce na Espanha, nos picos da serra de Urbión, (Sória), a 2080 metros de altitude e tem a sua foz na costa atlântica, na cidade do Porto. O seu curso tem o comprimento total de 850 km. Desenvolve-se ao longo de 112 km de fronteira portuguesa e espanhola e de seguida 213 km em território nacional. A sua altitude média é de 700 metros.

No início do seu curso é um rio largo e pouco caudaloso. De Zamora à sua foz, corre entre fraguedos em canais profundos.

            O forte declive do rio, as curvas apertadas, as rochas salientes, os caudais violentos, as múltiplas irregularidades, os rápidos e os inúmeros "saltos" ou "pontos" tornavam este rio indomável.

Aproveitando o elevado desnível, sobretudo na zona do Douro internacional, o desnível médio é de 3m/km, a partir de 1961, foi levado a cabo o aproveitamento hidroeléctrico do Douro.

            Com a construção das barragens, criaram-se grandes albufeiras de águas tranquilas, que vieram incentivar a navegação turística e recreativa, assim como a pesca desportiva.  Excluindo-se os períodos de grandes cheias, pode dizer-se que o rio ficou domado definitivamente.

           No seu curso, entre Bemposta e Picote, pode ser visto, nas suas águas espelhadas, tudo o que rodeia este ambiente: as nuvens, o sol, (que queima os olhos, reflectido na água), os montes, as fragas, as aves (patos, garças, águias, abutres, gaivotas). Nas fragas mais altas podem ser vistas aves de rapina, guardando os seus ninhos.

Por outro lado, no rio, espécies indígenas, como o escalo, a enguia e a truta, têm sido dizimadas ou pela pesca à rede descontrolada e/ou pela modificação das condições ambientais (parte do ano estão perto do limite de resistência de algumas espécies). Após a construção da barragem, foi feita a introdução da Carpa que, podendo atingir acima dos 20 kg, tem a propriedade de se alimentar de tudo, fazendo a limpeza das barragens mesmo em condições precárias de oxigenação das águas. Mais recentemente, surgiram o Achigã, a Perca, o Lúcio (peixes carnívoros) e o Lagostim vermelho, (todos eles originários de outros países). Pode ainda encontrar-se, com abundância, a boga e o barbo e até mexilhão (idêntico ao do mar).                             

Porém, passar junto a fragas gigantes, tingidas de várias tonalidades, pela separação de fragmentos de rocha, causadas por dilatações e contracções bruscas, motivadas pelo clima, é esmagador. 

            Viajando até junto do Douro, que serpenteia entre as arribas, pode ver-se onde vivem e/ou nidificam abutres, grifos, águias, pombos bravos, andorinhas, etc., e nas ladeiras do mesmo, a perdiz, a rola, o estorninho, o melro, o papa figo, etc. 

Dentro das matas de zimbros, estevas, carvalhos, sobreiros e pinheiros e outras variedades de vegetação das encostas do Douro, podem ainda encontrar-se espécies cinegéticas, que são uma das maiores riquezas naturais da região: o corso, o javali, o coelho, a lebre, o lobo, a raposa, o texugo, a gineta, etc.

O Rio Douro foi, e é, uma fonte de riqueza para a região e para a aldeia. Antigamente, fazia mover as azenhas que se espalhavam nas suas margens, tais como as azenhas do Sr. António Luís, dos Fróis, dos Melgos e dos Velhos, permitia a pesca, irrigava campos ou enchia os poços das melhores hortas de Bemposta, existentes perto deles, onde se cultivavam as novidades e as árvores de fruta, base de sustento das populações. Mais tarde, com o aproveitamento hidroeléctrico, Bemposta passa a contribuir para a riqueza nacional, distribuindo energia eléctrica ao país. Proporcionou também maior abundância de peixe, através das albufeiras, criando alguns postos de trabalho com a pesca profissional, a que se dedicaram algumas famílias.

Como paga, pelos enormes prejuízos causados à população, pela expropriação dos seus melhores terrenos, o Estado concedeu uma quantia monetária à autarquia de Mogadouro, para aplicar no desenvolvimento do nosso Concelho.

 

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BARRAGEM DE BEMPOSTA

 

Links :

Instituto da Água - Barragem de Bemposta

Bacia do Douro - redes de medição

Aproveitamento hidroeléctrico do Douro

Características Principais da Barragem

Boletim de armazenamento de água

Sistema electroprodutor da EDP

 

           A barragem de Bemposta faz parte do aproveitamento hidroeléctrico  chamado Sistema Douro Internacional. Entrou em funcionamento em Dezembro de 1964.

            A central é subterrânea, localizada no maciço rochoso, tem 85 metros de comprimento, 22 metros de largura e 45 metros de altura. Está equipada com 3 grupos geradores. A  sua albufeira abrange os concelhos de Mogadouro e Miranda do Douro.

            As suas variações de nível são pouco significativas, potenciando o rio e as zonas ribeirinhas para o desenvolvimento de actividades turísticas e de lazer.

 

As Consequências para a Aldeia

             Tudo começa com as expropriações de propriedades que se estendem do rio Douro até, praticamente, à aldeia. Os melhores terrenos de cultivo passaram para a posse do Estado. A revolta foi grande, a indemnização, sem aprovação dos donos, foi a um preço irrisório. Foram praticados a 1 escudo (5 cêntimos), por cada cepa, 100 escudos (50 cêntimos), por cada oliveira e cada hectare de terreno 200 escudos (1 euro).

            A contestação ao preço era reprimida pela presença imediata da Guarda Republicana, na residência da pessoa, fazendo interrogatórios intimidatórios. 

            De repente, cerca de 5000 pessoas, como que invadem a aldeia aproveitando tudo que servisse de habitação. Nada escapa, desde as casas até aos palheiros e outros casas improvisadas, nas ladeiras do rio Douro. Os primeiros eram na maioria empregados de um subempreiteiro que sediou a sua empresa aqui. Os segundos, procurando casa e não a conseguindo, na aldeia, aproveitaram tudo que servisse para esse fim, junto das obras, levantando paredes em pedra, cobertos por vegetação e sacos de cimento.

            Para os trabalhos de sondagem, no início da construção, foram contratados quase em exclusivo homens da aldeia, eram trabalhos indiferenciados e predominantemente manuais. Consistiram em abrir galerias. Após as explosões, para abrir caminho na rocha, à força de braços, era retirado o escombro resultante.

            O que parecia ser um benefício para o desenvolvimento da aldeia depressa resultou em acumulação de tensões.

            A população deixou de contar com a sua única riqueza, os terrenos donde extraía os produtos agrícolas, base do seu sustento. Por outro lado, os barragistas começaram a roubar a pouca produção agrícola que restou para sua alimentação.

            A somar a tudo isto, o choque de costumes e culturas ainda agudizou mais as relações entre população e os barragistas. Eram mal aceites algumas atitudes de arrogância, com que tentavam desprestigiar socialmente os habitantes, assim como as tentativas de seduzir raparigas. Muitos foram castigados pela sua persistência, pela irreverência da sua juventude, e atirados ao chafariz, onde bebiam os animais. Todo este nervosismo culminou com um diferendo grave, que se descreve à frente.

            A população, no entanto, fazia a separação entre os que viviam fora da aldeia e dentro dela. Aliás, estes criaram fortes relações havendo, ainda, hoje visitas esporádicas de ex-residentes às famílias amigas e muitos padrinhos de baptismo.

            No começo da construção da barragem, propriamente dita, a empresa responsável pelas obras, a Hidroeléctrica do Douro, iniciou a construção de infra-estruturas para receber o pessoal técnico e operário para os trabalhos mais específicos da construção. Dá-se início a um novo centro urbano a que é dado o nome de Cardal do Douro.

            Para todos esses trabalhos foi indispensável a utilização de granito. Embora existente por toda a aldeia, foi escolhida, no entanto, a zona de Pereiras, que separa a aldeia da ribeira, e onde hoje está instalada a Rovim, para essa extracção. Foram construídas estradas entre esta zona e a da barragem, por onde circularam potentes “euclides”, que carregavam, incansavelmente, esta matéria-prima.

            Esta zona fica muito perto da aldeia. A utilização de explosivos para arrancar a rocha causava ondas detonantes que faziam vibrar a aldeia, assente que está sobre rocha, abrindo brechas que, ainda hoje, se podem verificar, em algumas casas.

            Mais uma vez saíram prejudicadas as populações, pois nunca ninguém se responsabilizou pelo arranjo dos estragos.

            Para os operários foram construídas, na zona do Barco e Palão, camaratas pré-fabricadas em madeira, pintadas de vermelho e janelas brancas.

            Para os engenheiros, encarregados e capatazes, foram construídas no mesmo material, casas na zona de Guímara, mas separadas por categorias, pintadas na cor verde e janelas brancas.

            Todas estas construções foram assentes numa base horizontal, de granito, necessária pela grande inclinação dos terrenos nessa zona.

            Para apoio a este novo aglomerado de gente, são construídas estação de tratamento de águas, distribuição de energia eléctrica, escola, capela, cinema, pousada e oficinas.

            Mais no final foram construídas casas definitivas, em betão armado, para acolher os técnicos que ficaram a dar assistência à barragem, após a construção. Estas casas foram consideradas uma obra exemplar, pela sua integração na paisagem e arquitectura inovadora, para a altura. O arquitecto responsável foi Rogério Araújo de Oliveira Ramos, natural do Porto.

            Contudo, pela sua importância como agente influenciador da vida das gentes, que habitam Bemposta, não se deve deixar de concluir que houve aspectos positivos e negativos, tal como a população diz:

 

 Efeitos positivos:

    1 - Deixaram de estar no obscurantismo em que estiveram mergulhadas até então e começaram a ser visitadas e faladas.

    2 - Criaram alguma riqueza para a região, pois a EDP paga anualmente uma quantia às Câmaras, como imposto. No entanto, esta posição não é pacífica, pois acham que essas verbas deviam ser canalizadas só para as aldeias a quem foram expropriados os seus terrenos, pois foram-lhe retiradas as melhores terras de cultivo que ficavam junto ao rio, como por exemplo: árvores de fruta e hortaliças (os mimos, como lhe chamam). "Agora só podemos fazer culturas de sequeiro e pequenas hortas, pois a água é escassa nas aldeias" .

    3 - Criaram muitos postos de trabalho numa zona em que é difícil encontrar outro emprego que não seja a agricultura, pois a indústria e serviços são praticamente inexistentes.

    4 – Ficaram, através delas, ligados com a Espanha, com fronteiras em Miranda do Douro e Bemposta. Esta situação fez incrementar o comércio e abriu novos horizontes.

Efeitos negativos:

    1 - "Foram-nos expropriadas as melhores terras de cultivo, por um preço irrisório, que fomos obrigados a aceitar, pois nem se podia falar em recorrer ao tribunal, porque a GNR logo nos aparecia por casa a fazer perguntas e a amedrontar-nos".

    2 - "O clima mudou muito. É mais húmido. Às nossas barragens temos que juntar a de Almendra, em Espanha (parece um mar). A nossa principal cultura, a vinha, ressentiu-se com isso. O tratamento contra as pragas da vinha é, desde essa altura, mais difícil o que nos fez aumentar as despesas e diminuir a produção".

    3 - "As nevadas que caem já não são como as de antigamente. Dantes tínhamos que abrir, muitas vezes, com a sachola, um buraco para sair de casa, tal era a quantidade de neve que cobria a aldeia. Agora, raramente neva".

 

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